Por Karina Brum
Como já foi dito e repetido incontáveis vezes, a sexualidade humana pode manifestar-se – e frequentemente se manifesta – de maneira extremamente polimorfa.
De fato, mesmo nas mais adversas condições e nas mais difíceis situações, o impulso sexual, um dos motores básicos da conduta humana, se apresenta, ora de maneira explícita, outras vezes veladamente.
O adjetivo “normal” pode ser compreendido de várias e diferentes maneiras. Os dicionários (o Aurélio, por exemplo), definem-no como sendo o que é feito segundo a norma, o habitual, o natural.
Em matemática, “normal” é a reta perpendicular à uma superfície ou linha. Em uso comum, “normal” é usado com o sentido de algo que não causa espanto, do que é usual, do que segue os mesmos padrões que a maioria das pessoas segue.
Quando se fala em atos ou pensamentos “normais”, em sexualidade, comumente se associa a imagem de algo que a maioria das pessoas faz e pensa, ou ainda atos que não sejam danosos à saúde de quem os realiza ou de quem os sofre.
Dessa maneira a masturbação, por exemplo, seria normal na fase de adolescência e juventude, desde que praticada com moderação. Quando praticada com frequência “exagerada” por adolescentes ou por adultos e idosos, entretanto, é vista como algo de doentio, pois existe uma noção – aliás falsa – de que essa prática seja física e mentalmente perniciosa.
O fato é que o exercício da sexualidade humana se rege num complexo contexto biopsicossocial. Nossa espécie, pela aquisição de sutis características anatômicas e fisiológicas, é a única no Reino Animal a poder exercer a sexualidade fora dos limitados padrões do sexo reprodutivo.
Nossa sexualidade é fortemente influenciada por elementos sensoriais, comportamentais, sociais e emocionais. E para cada um desses elementos poderíamos traçar regras de “normalidade”.
No que diz respeito ao componente orgânico do exercício da sexualidade a norma fisiológica é que, diante de certos estímulos considerados eficientes (visão, tato, olfato ou mesmo imaginação), homens e mulheres entrem num ciclo de modificações orgânicas que se convencionou chamar de “Ciclo de Resposta Sexual”.
Assim, diante desses estímulos, é “normal” que homens e mulheres se excitem, tendo ereções ou lubrificações vaginais, bem como é “normal” que atingindo um certo grau de excitação sobrevenha o orgasmo.
O “anormal” aqui, isto é, o não cumprimento desse ciclo, é o que se convencionou chamar de “disfunção sexual”. É no componente psicológico do exercício da sexualidade, no entanto, que, em nosso ver, existem mais dificuldades em conceituar-se o normal.
Na verdade, para saber se nossa sexualidade está sendo naturalmente exercida, deve-se responder a indagação sobre se ela é saudável. Perguntas como: “estou contente com minha sexualidade ou eu tenho prazer ou estou satisfeito (a) ou ainda, minha parceira (o) por quem tenho afeto se sente feliz e satisfeito (a)?”
A essa satisfação com o exercício da própria sexualidade, costuma-se denominar de “adequação sexual”. Quando essa adequação não existe, ou seja, quando está insatisfeito com a prática da sexualidade, denomina-se a isso de “inadequação sexual”, que em última análise é o objetivo de todas as correntes de terapia sexual, quer as de fundo orgânico, quer as de fundo psicogênico.
Em resumo, poderíamos dizer que o “normal” em sexualidade se resume ao satisfazer-se e satisfazer sexualmente seu parceiro ou sua parceira, desde que isso não traga riscos ou danos a si mesmo, ao (ou à) parceiro e ao meio social.
Dentro desse princípio, o que cada pessoa ou cada par faz no âmbito restrito de suas vidas privadas só a eles próprios interessa, cabendo a nós, como indivíduos e como membros da sociedade, respeitar as naturais e enriquecedoras diferenças que fazem do ser humano algo de tão maravilhoso.