Por Flávia Albaine*
Gaslightting é um tipo de violência psicológica que tem como vítimas, na maioria dos casos, as mulheres.
Entretanto, alguns homens também podem ser vítimas desse tipo de violência.
Infelizmente, as estatísticas mostram que é pouco provável que uma mulher, no decorrer de sua vida, nunca tenha sido vítima de Gaslightting, seja no âmbito familiar, em uma relação afetiva, no ambiente laboral ou em outro meio social frequentado.
O Gaslightting baseia-se, essencialmente, em obter controle sobre os demais através de táticas de persuasão para diminuir a autoestima da vítima.
Na medida em que a vítima vai aceitando o comportamento manipulativo, o nível de manipulação vai aumentando gradativamente.
Os Gaslighters são as pessoas que cometem o Gaslightting, podendo ser praticados por homens e mulheres.
Alguns são fáceis de identificar, enquanto outros desafiam uma percepção mais aguçada e possuem uma série distinta de comportamentos.
O que todos têm em comum é a manipulação enquanto estilo de vida para obter controle sobre os demais, tirando o equilíbrio emocional da pessoa e fazendo com que ela se questione sobre a sua própria realidade.
Exemplos de comportamentos assim podem ser citados: o namorado extremamente controlador e ciumento, mas que envolve a parceira por ser charmoso e autoconfiante, fazendo com que a namorada acredite que o ciúmes é prova de amor; o assediador que culpa a vítima por uma violência cometida contra a mesma, dizendo que ela foi a causadora da situação, e/ou que está “maluca” e enxergando coisa onde não existe; o chefe que sempre dá um jeito de levar o crédito pelo trabalho que você faz, ou, então, que tenta invisibilizar – de forma direta ou velada – a sua competência técnica, fazendo com que você se questione se realmente é uma boa ou bom funcionário; o presidente de uma empresa que atormenta e intima os seus subordinados, jogando um contra os outros para desviar a atenção do seu próprio comportamento antiético no trabalho.
Discórdia e coleta de dado: sim, eles vão além
Outra tática comum dos Gaslighters é coletar informações fornecidas pela própria vítima e, posteriormente, utilizá-las contra elas de forma a prejudicá-las.
Eles tratam a vulnerabilidade da vítima como uma fraqueza a ser explorada e, em muitos casos, espalham boatos a respeito das vítimas para enfraquecê-las emocionalmente.
Causar discórdias entre as pessoas é algo que atende muito bem a necessidade que eles têm de dominar e controlar, pois, assim, eles fazem com que as pessoas concordem com eles, maculando o caráter da vítima, evitando o confronto direto e evitando as responsabilidades por suas ações.
Um exemplo corriqueiro desse tipo de conduta é quando a mulher, vítima de algum tipo de violência, decide procurar ajuda e denunciar o que está acontecendo.
Ao invés de ser acolhida como deveria, o seu discurso é desqualificado e desacreditado, além de ser acusada de estar expondo o seu agressor (que pode ser uma pessoa ou uma instituição).
A vítima, então, se torna algoz. Ela sofre um processo de revitimização, se sente acuada e não sabe mais para quem recorrer pedindo ajuda.
Os perpetradores da violência usam o Gaslightting como maneira de convencer as vítimas de que elas estão loucas, aumentando o ciclo de violência que pode levar à depressão e, em alguns casos, ao suicídio. Para evitar esse tipo de situação, está a importância da capacitação adequada dos profissionais que atendem vítimas de violências.
No âmbito doméstico, familiar e afetivo, o Gaslightting cometido contra a mulher pode configurar violência psicológica a atrair a incidência da Lei Maria da Penha.
Caso tal fato ocorra contra a vítima mulher em outro ambiente, pode configurar o crime de violência psicológica contra a mulher previsto no artigo 147-B do Código Penal.
Se você é vítima de Gaslightting, não hesite em procurar ajuda!
*Flávia Albaine é Graduada em Direito pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Especialista em Direito Privado pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro. Mestra em Direitos Humanos e Acesso à Justiça pela Universidade Federal de Rondônia com pesquisa no tema sobre atuação estratégica da Defensoria Pública em prol da inclusão social de pessoas com deficiência. Membra da Comissão dos Direitos das Pessoas com Deficiência da Associação Nacional das Defensoras e Defensores Públicos. Conselheira Estadual e Nacional do ONDA Autismo RO. Colunista de Direitos Inclusivos da Revista Cenário Minas. Professora das disciplinas direitos dos idosos e direitos das pessoas com deficiência em cursos preparatórios pata ingresso na carreira da Defensoria Pública. Fundadora e coordenadora do Projeto Juntos pela Inclusão Social em prol das pessoas com deficiência e das pessoas idosas. Coautora de livros sobre os direitos das pessoas com deficiência. Palestrante. Autora de artigos acadêmicos e artigos de educação em direitos sobre os direitos das pessoas com deficiência e direitos dos idosos.
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