Por Karina Brum
Durante séculos, falar de sexo era proibido, associado a pecado, doença ou moralidade.
O que as pessoas sentiam, desejavam ou sofriam — ficava escondido, sublimado, crescendo dentro de um lugar apertado. No século XIX, a medicina e a psiquiatria começaram a olhar para a sexualidade, mas com uma visão voltada para o patológico:
- masturbação era vista como doença;
- homossexualidade como desvio;
- desejo feminino como histeria.
E crescemos ouvindo que o corpo até poderia ser tratado, mas a dinâmica psíquica ficava silenciada.
Tivemos uma virada de chave no início do século XX.
Foi elaborado o 1° movimento que compreendia que o sexo era uma das partes humanas existentes em nós, e por tanto, não poderia ser classificado como pecado. Meu querido Sigmund Freud, em seus estudos, afirmava que a sexualidade está na base da vida psíquica e atravessa toda a nossa existência. Mesmo ele sendo o “homem” que foi, temos que respeitar que o ponta pé inicial para desacorrentar o tema da moral e para os vieses da ciência foram méritos dele. Pouco tempo depois, na Europa, outro marco, o jovem Magnus Hirschfeld funda o Instituto de Sexologia (1919) – ali os direitos sexuais começaram a ser defendidos e temas como diversidade e educação sexual recebiam atenção e dedicação. A partir daí, nasce a ideia de que a sexualidade merecia estudo, cuidado e políticas públicas para sobreviver.
Mas temos o 2 saldos históricos entre as décadas de 1950 e 1970. O estudo sobre sexo e sexualidade foram definidos como profissão em ciências aplicadas. O 1° Instituto de Estudos em Sexualidade é fundado nos EUA, pelo Dr Alfred Kinsey – ali, cientistas estudiosos do comportamento humano desenvolveram pesquisa, observando as interações sexuais entre pessoas (com candidatos voluntários e eticamente dispostos), quebrando mitos e tabus. Essas pesquisas comprovaram que o dito “normal” era plural.
Em seguida, Masters & Johnson, também descreveram a como se estruturava biologicamente a resposta sexual humana, alavancando os métodos terapêuticos para que os profissionais da área da saúde sexual pudessem ensinar com segurança e método ético a terapia sexual estruturada.
Daqui a profissão passa a existir com um robusto propósito:
- Cuidar do sofrimento sexual, promover autonomia, tratar disfunções e educar para relações saudáveis.
A partir de 1980 a sexualidade se firma como direito integral dentro da qualidade de vida e bem-estar humanos. Vários movimentos pelos direitos sexuais, HIV/AIDS e debates sobre diversidade, surgem e norteiam a seguinte compreensão:
- sexualidade é parte da saúde integral (OMS);
- prazer é dimensão legítima;
- educação sexual previne violações, adoecimento e violência.
Dentro desta configuração, a figura do sexólogo ganha legitimidade clínica, social e educativa.
E para quem não entendeu ainda o porquê ir ao sexólogo é importante, vou ser mais específica:
- Porque ninguém nasce sabendo viver o próprio corpo – Sexologia devolve linguagem, autoconhecimento e autonomia.
- Porque o sofrimento sexual é silencioso e envergonhado – Sexólogos tratam disfunções, traumas, bloqueios, compulsões, baixa libido — evitando rupturas de vidas e relações.
- Porque sexualidade é campo de violência, abuso e desigualdade – Profissionais educam, defendem direitos, desconstroem mitos, previnem danos.
- Porque ciência é necessária contra fake news e moralismos – Sexólogos traduzem evidências para a vida real — e isso salva saúde física e mental.
- Porque saúde sexual é pautada em bem-estar e prazer, não só reprodução – A profissão ressignificou o sexo como experiência humana, relacional, emocional e terapêutica.
A sexologia nasceu porque o silêncio não cura. Porque o corpo sente antes de entender e sofre quando não pode falar. O sexólogo existe para dar linguagem ao desejo, cuidado à dor, ciência ao prazer e dignidade à diversidade. É uma profissão que humaniza a sexualidade — transformando tabu em saúde, conflito em insight e vergonha em liberdade responsável.












