Feliz dia Internacional do Orgasmo!

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Feliz dia Internacional do Orgasmo!

Por Karina Brum

Certo dia eu ouvi de uma professora que admiro muito, uma frase impactante e repleta de verdades: “O orgasmo representa um evento neuroquímico completo, com impacto direto sobre o humor, o vínculo afetivo, o sistema imune, a regulação emocional e a saúde mental”.

E realmente, ter um orgasmo ou alguns orgasmos é um MEGA evento! E esse evento acontece bem menos do que eu gostaria entre mulheres heteronormativas. Um dos estudos recentes publicados no Journal of Sexual Medicine, com base em dados coletados por pesquisadores da Universidade de Indiana e da Universidade de Chapman (EUA) afirmam que apenas 65% das mulheres com relacionamentos heteronormativos chegam ao orgasmo – as mulheres lésbicas atingem 89% a mais de orgasmos dentro de suas relações. E por anos, atendendo mulheres no consultório, conclui que a grande lacuna entre essas mulheres de orientação sexual diferentes, resume-se ao entender como o corpo da mulher funciona. 

Ainda hoje, em pleno século 20, muitas pessoas não sabem de fato sobre anatomia da vulva ou vagina, e pra piorar a estatística, homens heterossexuais ignoram a possibilidade de saber sobre essa anatomia tão delicada e incrivelmente poderosa.

Tem pessoas que ainda confundem de onde sai o xixi e, dão crédito apenas para a glande clitoriana e não para o corpo clitoriano como um todo. A grande pergunta que fica na minha cabeça: se você homem heteronormativo não se importa em estudar a região intima da sua parceria, independente do motivo, porque sente ciúmes (talvez seja inveja também) quando a mulher compra um vibrador ou um pênis de borracha?

Não faz sentido sentir insegurança (ou medo) de um objeto “elétrico ou eletrônico” que foi projetado para garantir que o corpo feminino derrame gozo também. Eu desejo inclusive que os homens sejam livres desse preconceito e se entreguem as facilidades que um vibrador proporciona dentro desse contexto, afinal os vibradores estão tão modernos, que funcionam a longas distancias, por aplicativos e por Bluetooth – pra mim, nunca fez tanto sentido para o universo masculino ter um tipo novo de game para se divertirem em busca de novas fases orgásticas.

O uso de brinquedos eróticos deve ser visto como ferramenta, como instrumento que tem um objetivo claro: sensibilizar e dar prazer. Há séculos as mulheres são estigmatizadas no campo da sexualidade: não tem direito de ter prazer ou servem apenas como incubadoras humanas, não podem manifestar desejo ou tomar a iniciativa porque isso seria um “desrespeito” ao ego masculino. 

Estamos numa era de libertação da sexualidade – muitas de nós queremos sim afetos, amor e orgasmos! Queremos e merecemos relações em que haja diálogo franco e gentil, que haja igualdade de direitos, que exista possibilidade de lutar e ganhar a mesma coisa que outro ser humano. Eu acredito que algumas mulheres que fingem orgasmos têm essa reação, motivadas pelo instinto da fuga, afinal os homens não estão acostumados a terem sua “masculinidade” colocada em check.

A Educação Sexual existe para isso, educar e orientar a entender sobre todas essas emoções conflitantes que o medo produz. E o uso de um sex toy durante a relação ou via masturbação é fundamental no processo alfabetização erótica de todos os gêneros. Vou usar uma frase famosa de um psicanalista: “Conheça todas as teorias, domine todas as técnicas, mas, ao tocar uma alma humana, seja apenas outra alma humana” – Jung, C. – Essa frase se encaixa 100% dentro desse contexto sobre empatia e responsabilidade sexual. 

No dia 31 de julho, Dia Internacional do Orgasmo, a celebração é um ato político, vai além de um processo capitalista – devemos e podemos comemorar essa data enquanto ato de poder do feminino. Então sugiro um agir ativo, um ato solo de “siriricar”, buscando dissolver essas amarras sócio-históricas cheias de tabus reinventados pela nossa cultura. 

Liberte-se! Autorize-se a vibrar por inteiro e goze poderosamente durante sua jornada em busca do prazer.

Beijos da Ka.

Karina Brum é psicóloga e sexóloga. E tem como propósito desmistificar tabus, preconceitos socioculturais e crenças limitantes, oferecendo ferramentas que libertem a pessoa para seguir sua vida de forma singular. Além de falar sobre as demandas sexuais e da sexualidade humana, de forma divertida, científica, às vezes meio irônica, porém sempre muito sensata.

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