Em nossa cultura latino-americana, com forte inspiração cristã, mesmo as pessoas que pertencem a religiões não-cristãs, acabam desenvolvendo visões semelhantes sobre a sexualidade, relacionando sexo a culpa/pecado e retirando a sexualidade do contexto religioso.
Também há um entendimento geral e equivocado do papel feminino, porque como a visão é mais centrada no cristianismo, a tendência é considerar a cultura cristã como base para se falar sobre a condição feminina, desconsiderando outras culturas, épocas e religiões.
Para entender a mulher no contexto atual das religiões, Aldo Natale Terrin[1], um padre italiano, classificou as crenças tomando como critério o papel da sexualidade e da mulher e, agrupou-as em quatro tipos: naturais, ascéticas, sacramentais e místicas:
- Naturais: consideram o sexo natural e necessário e têm como representantes o judaísmo, islamismo, taoísmo, xintoísmo e xivaísmo, que apresentam comparativamente, algumas diferenças na influência patriarcal ou matriarcal, mas trazem a mesma consideração sobre o sexo.
- Ascéticas: têm medo do sexo e rejeitam a mulher por considerá-la a origem dos males da humanidade e são representadas pelo budismo e cristianismo. Assim como as religiões naturais, há nesse tipo, uma gradação de importância do masculino e feminino, mas o foco central sobre o sexo permanece o mesmo.
- Sacramentais: entendem o sexo e a relação homem/mulher, macho/fêmea como um dos caminhos para se atingir o sagrado, pois o vêem como uma das formas de representar a criação através da união Deus e Deusa. O tantrismo e o dionisismo são representantes dessa corrente de pensamento.
- Místicas: entendem o sexo como um caminho para se atingir o sagrado, mas não necessariamente através da união dos opostos, do reviver o Deus e a Deusa, e sim como um exercício individual de ascensão, caso dos sufistas, os gnósticos e os fibionitas. A diferença em relação às religiões sacramentais é que nessas, homem e mulher ascendem juntamente e nas religiões místicas, o sacerdote procura a união com o criador utilizando uma parceira que pode ou não ser iniciada, pois a intenção é chegar ao UM, não revenciar o DOIS.
As religiões sacramentais, dentre os quatro grupos, são as que apresentam maior equilíbrio entre as energias opostas feminino-masculino e entre a relação Deus e Deusa, sem preponderância de um ou outro, o que pressupõe uma situação ideal se a vivência da polaridade for considerada o modelo mais próximo para as relações, tanto pessoais, quanto sociais.
Como exemplos de cultos sacramentais estão o tantrismo e dionisismo, ambos citados por Terrin como o reaparecimento, a “redescoberta da grande mãe, do instinto sexual entendido como o verdadeiro portador da vida” e considerados pelo mesmo como religiões originadas de outras, onde a visão sobre o sexo era livre.
Ampliar a visão sobre a sexualidade, diferentes culturas e religiões é muito importante para evitar o equívoco de se considerar a mulher como “inferior”, “dominada” e “vítmima” em toda história da humanidade e em todos os lugares.
E claro, para evitar os pré-julgamentos e pré-conceitos sobre diferentes formas de se ver a sexualidade, principalmente o sexo espiritual, quebrando o tabu de que sexo não combina com o Sagrado.
Super abraço!
[1] Trechos retirados da dissertação de mestrado de Liliane Provenzano Friedericks (A presença da Deusa da Umbanda – o Sagrado feminino e a Hospitalidade), apresentada na Universidade Anhembi Morumbi em 2006.
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