Nova série da Netflix é muito mais do que um enredo colegial. Em Sex Education, um adolescente de 16 anos atua como terapeuta sexual de seus próprios colegas na escola!
Uma cliente minha (que já virou amiga dado o tempo que trabalhamos juntas) me perguntou semana passada se eu já tinha visto Sex Education. “Dá matéria pro site”, ela disse.
Pois bem, Francilene: vi em dois dias e amei. Dá mesmo uma matéria pro site. Mas acabou virando uma review meio blogueirina, pode ser?
Até pensei em entrevistar muita gente a respeito, mas depois percebi que já tava na hora de fazer algo mais autoral.
E o momento perfeito parece ser mesmo este: taí eu, uma comunicadora social que adora dramaturgia (especialmente cinema e seriados) , pós graduada em Educação Sexual. Por que não eu?
Aguentem: tentei sintetizar o que achei de mais legal em Sex Education em 8 motivos e prometo não dar spoilers
1º – É muito sinceridade
E olha que não sou só eu que acha isso. Esse é o ponto mais reforçado na crítica internacional que li antes de me arriscar nesse texto.
De cara , o primeiro episódio já é aberto com uma cena de sexo entre dois adolescentes. É tipo pá-pum, como se nos quisesse dizer “olá você está assistindo um seriado chamado Sex Education. Portanto, tem cenas de menores transando sim.”
E esse é um dos princípios básicos da Educação Sexual. Queira nós ou não, a educação sexual também é um processo e pode acontecer naturalmente, resultante de um fluxo de ações, ou ser bem orientada por um diálogo claro entre pais e filhos.
Os jovens transam, e cada vez mais cedo. Se não assumirmos e aceitarmos isso como uma realidade, não é possível auxiliá-los na prevenção e no tratamento de problemas sexuais.
Ignorar para não estimular mais ainda a sexualidade na adolescência, pode ser o caminho mais errado a tomar nos dias de hoje. Porque os jovens vivem o dilema de arderem com a dança louca hormônios nessa fase da vida e ainda tem acesso a muita informação que nem sempre são as melhores.
2º – Mesma fórmula, mas conteúdo rico
Parece até uma técnica das produções originais da Netflix, né não gente? Você começa a assistir algo e já de cara reconhece “aquele roteiro batido”. Mas até chegar o final da história irá se surpreender do que foi feito com ele. E a gente ama isso e é por isso que a Netflix vicia.
Com Sex Education não é diferente: a história se passa no universo secundarista colegial, tem bullying, tem festa, tem drogas, tem competições emocionantes, romances quase impossíveis e claro, o baile de formatura.
O que Sex Education faz é usar esse roteiro “mamão com açúcar” para nos passar um conteúdo mais precioso, expondo de forma muito espontânea e até cômica os desafios da sexualidade na adolescência.
Uso indiscriminado de pílulas para ereção, como lidar com o sexo oral, envolvimento emocional, traumas de infância em relação ao próprio corpo, gravidez indesejada e aborto, homofobia, vazamento de nudez pela internet, entre outros assuntos são abordados nessa primeira temporada.
A cada novo episódio os personagens tem problemas para resolver, e você começa a se surpreender quando quase todos eles tem algum problema, mesmo os que você nem achava que poderiam ter.
3º – É politicamente correto
Como a série tem muitas cenas de nudez e sexo entre atores muito jovens, a produção inseriu na equipe uma especialista em intimidade para orientá-los, deixá-los mais a vontade, bem como evitar possíveis constrangimentos, mau entendidos, ou até mesmo casos de assédio e abusos sexuais revelados pelo movimento #metoo em outras produções cinematográficas.
Achei legal esse cuidado, já que o tema é delicado, nada mais alinhado com o objetivo da série.
4º – A trilha sonora é do C@r#lho!
Sou meio suspeita pra falar, mas adorei a trilha que traz o fino ouro do rock dos anos 80 (década em que eu fui adolescente). Ramones, A-Ha, The Smiths, UB-40, The Cure, Talking Heads, INXS, Whitesnake, entre tantos outros embalam os episódios de Sex Education.
Toda estética do seriado é meio oitentista mas a gente acaba sacando que é um charminho, porque os personagens usam internet e smartphone. É como se passasse uma ideia implícita de que tanta tecnologia não ajuda muito quando o assunto é sexualidade.
Uma outra teoria é que Sex Education foi pensado para atrair adultos e adolescentes (os pais e seus filhos) unindo assim duas gerações na frente da tela para absorver o mesmo conteúdo. A escolha por misturar épocas num mesmo tempo narrativo é para gerar um diálogo casual entre os dois lados dessa mesma moeda no sofá dos espectadores e quem sabe assim puxar “aquela conversa” que ainda não rolou…
Outra hipótese é que pode ser apenas a apropriação do roteiro clássico do gênero colegial, já que era muito famoso e aceito nos anos 80. O sucesso das franquias “De Volta para o Futuro” e “American Pie” não nos deixa de esquecer disso.
5º – É curta e divertida
A 1ª temporada de Sex Education tem apenas 8 episódios e não enrola pra ganhar tempo. Cada episódio tem sua própria história dentro da história maior que liga todos os episódios, somando para chegar no clímax ( isso te lembra alguma coisa? Tipo, preliminares?)
A série vai te cativando aos poucos e você não consegue deixar pra depois, quer logo chegar aos finalmente. Isso é irresistível, como todo mundo que ser na cama, não é mesmo?
A linguagem é leve, tudo banhado e encharcado daquele delicioso humor inglês que deixa a gente sem defesas, altamente confortável.
Espero que tenha uma 2ª temporada, já que ficou faltando algumas coisas bem interessantes ainda pra acontecer (não vou contar!).
Senti falta também de alguns tópicos muito presentes já na adolescência como assédio e abuso sexual e DST’s, por exemplo.
6º – Elenco talentoso
Levanta a mão quem não se sensibiliza com talentos precoces? 99% do elenco de Sex Education é muito jovem e está estreando na tela.
É tudo novo e você sente aquela verve adolescente de empolgação e descoberta.
7º – Paisagens belíssimas
Sex Education é gravada no País de Gales e mostra um cotidiano pacato onde as pessoas andam de bike cruzando pontes por sobre rios e moram em colinas, alguns personagens até mesmo em pequenos castelos.
Parecendo querer nos dizer que disfunção sexual não é coisa só de cidade grande, de ambientes urbanos.
Por mais que haja diferenças culturais gritantes entre nós e os ingleses, os dilemas são os mesmos.
Lá no mundo da série, o filho gay é amparado pela família que é muito religiosa, o campeão do time de natação é filho de um casal lésbico, os terapeutas sexuais também tem seus problemas pessoais e erram como seres humanos que são. O aborto parece ser legalizado e muito bem assistido pela medicina.
Não dá pra não refletir sobre seu próprio olhar para esses temas ao assistir a série. Recomendo.
8º – É apenas um ponto de partida
Sex Education não se propõe a fazer o papel dos pais e nem dos professores na formação dos jovens.
Logo você percebe que e apenas um ponto de partida. É a deixa para que um diálogo se desenrole com mais facilidade dentro de casa, ou mesmo entre amigos. ( Quem é que não pede indicação sobre o que assistir na Netflix?)
Assim como começou a ideia desse post, não é mesmo? Netflix é assim como sexo, um assunto popular.
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