Se você, assim como eu, na onda do desespero que é passar por uma crise de enxaqueca, abriu a gaveta e testou o vibrador nas têmporas e na testa e teve alívio imediato da dor, saiba que estávamos fazendo isso de forma errada! Pesquisadores acabaram de descobrir que é no nariz que a vibração faz toda a diferença…
A notícia foi publicada ontem no portal da revista americana Wired e já estou louca para testar, embora de todos os modelos de vibrador que tenho em casa, nenhum certamente entrará no meu nariz.
Quem tem enxaqueca sabe que a ciência e a medicina pouco conhece as causas da síndrome, mas tem boas pistas dos gatilhos das crises, fazendo com que, nós portadores (que já somam mais de um bilhão de pessoas no mundo), tenhamos que moldar todo o nosso estilo de vida para evitá-las a qualquer custo.
Isso faz com que fujamos de desafios estressantes, relacionamentos difíceis, ambientes barulhentos, comidas muito temperadas, moderemos na bebida e no perfume, viagens muito longas, limitando assim nossas conquistas profissionais, convívio social, familiar, afetivo e até mesmo sexual.
Esta semana, os resultados de uma pesquisa do Migraine Trust do Reino Unido mostraram o quão importante é aumentar nossa compreensão das enxaquecas: 89% das pessoas com a condição disseram que sua saúde mental foi afetada como resultado, e 34% disseram que têm pensamentos suicidas devido às enxaquecas.
Se antes as primeiras teorias culpavam os vasos sanguíneos dilatados pelas crises, agora as pesquisas estão investigando o papel do hipotálamo, uma estrutura cerebral que está envolvida com mensagens de dor e inflamação das meninges, as três camadas de tecido que protegem o cérebro e a medula espinhal.
Dessa forma, os medicamentos atuais para enxaqueca contraem os vasos sanguíneos ou bloqueiam os receptores na rede da dor, mas eles não funcionam para todos e podem causar efeitos colaterais. (Para mim, por exemplo atacam a gastrite e portanto voltam a causar mais enxaqueca)
Como o vibrador pode aliviar a enxaqueca
Pode ser dizer que a “vibroterapia” começou em 1892, quando o neurologista Jean-Martin Charcot observou que os pacientes de Parkinson apresentavam melhoras em seus tremores após passeios prolongados de carruagem.
Ele atribuiu isso a vibrações rítmicas e criou um “fauteuil trepidant” — uma cadeira que tremia, que replicava o movimento. Seu aluno, Georges Gilles de la Tourette, mais tarde estendeu a técnica para tratar enxaquecas usando um capacete vibratório. Ambas as terapias forneceram “um poderoso sedativo para o sistema nervoso ”, escreveu Charcot.
Embora essas primeiras invenções tenham caído em desuso, estudos recentes estão revisitando o potencial da terapia de vibração para tratar enxaquecas. No primeiro teste desse tipo, Jan-Erik Juto e Rolf Hallin, do Instituto Karolinska, inseriram um cateter com um balão vibratório na narina de pessoas que sofriam de enxaqueca no início de um ataque.
Os voluntários registraram sua dor de enxaqueca antes, durante e depois do tratamento de 15 minutos. Esse estudo piloto mostrou que 17 de 18 pessoas relataram pelo menos 50% de alívio da dor, sendo que a metade das pessoas que receberam o tratamento ficaram completamente sem dor 15 minutos após seu término.
Os pesquisadores especulam que a vibração nasal tem como alvo uma coleção de células nervosas chamada gânglio esfenopalatino, ou SPG. Localizado logo abaixo da membrana nasal, o SPG é conectado ao hipotálamo. Durante um ataque de enxaqueca, acredita-se que o hipotálamo perca o controle sobre uma coleção de estruturas no cérebro chamada sistema límbico, que afeta como uma pessoa responde à dor. Ao estimular o SPG e indiretamente o hipotálamo, a vibração pode ajudar a restaurar o controle.
Enxaqueca, trigêmio e nível celular
Essa atuação da vibração já foi até apoiada por pesquisas posteriores: ao escanear os cérebros das pessoas durante o tratamento , eles mostraram que a vibração nasal modula mesmo a atividade no sistema límbico e interfere também na atividade do nervo trigêmeo.
Esse nervo envia mensagens entre o rosto e o cérebro e acredita-se que ele libere substâncias químicas que afetam as meninges e promovem enxaquecas. “Interferir na atividade do nervo pode ter ajudado a reduzir a inflamação e a dor das meninges”, diz Tie-Quang Li, que estava envolvido nesse trabalho.
Já Adriana LaGier e sua equipe, da Grand View University, em Iowa, examinaram como uma célula humana reage ao ser sacudida por células epiteliais vibrantes, o tipo mais comum de células humanas, que são encontradas por todo o corpo e cérebro.
Apenas 15 minutos de vibração fizeram com que as células encolhessem e retraíssem suas microvilosidades — fios semelhantes a dedos que normalmente se projetam da superfície da célula. Elas retornaram ao formato normal depois que as vibrações pararam.
Em uma crise de enxaqueca, o cérebro está inflamado, com milhares de células correndo para as meninges, o que se expande e aciona os nervos para disparar sinais de dor. A equipe então sugere que, como a vibração torna as células menores, elas ocupam menos espaço e reduzem a pressão nas meninges, não desencadeando mais uma resposta dolorosa.
Onde encontro o vibrador para enxaqueca
Para nossa sorte já tem até uma empresa sueca de tecnologia médica, chamada Chordate Medical que está desenvolvendo um dispositivo com base nesse trabalho.
Enquanto isso não chega ao mercado, quem sabe vamos nos aliviando com os bons e velhos vibradores que temos em casa, só que, em vez de aplicá-lo na testa e nas têmporas, tentemos pelo menos na ponta do nariz.
É importante ressaltar no entanto que a vibração não cura a enxaqueca, apenas alivia a dor. Se você sente muita dor de cabeça e ainda não recebeu o diagnóstico de enxaqueca, recomendamos fortemente que procure um médico, pois dores fortes na cabeça podem também ser sintomas de várias outras doenças.
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