“A reprodução assistida representa esperança para aqueles que não conseguem ter filhos por métodos naturais”, explica a médica especialista Cláudia Navarro.
É cada vez mais comum ver mulheres tendo o primeiro filho depois dos 40 anos. É uma idade considerada tardia pela ciência, mas mudanças sociais e de comportamento, como o investimento nos estudos e carreira profissional, tem levado os casais a tomarem a decisão de adiar a chegada dos filhos.
De acordo com dados do IBGE, divulgados em novembro de 2021, houve um aumento considerável no número de mulheres que se tornaram mães mais tarde em 2020, em relação à pesquisa feita em 2010.
Segundo o estudo, a porcentagem de mulheres que viraram mães entre os 30 e os 39 anos passou de 26,1% para 34,2% nesses dez anos. Acima dos 40 anos, o número foi de 2,3% para 3,7%.
Para a especialista em reprodução assistida, Cláudia Navarro, a decisão de adiar os filhos pode resultar em um processo natural de reprodução ou, em alguns casos, pode exigir auxílio da medicina e tecnologia.
“Não há nenhum problema em retardar o sonho da maternidade, desde que a mulher esteja ciente das chances e dos riscos que envolvem uma gravidez em idade mais avançada, além das possibilidades de tratamento existentes e que podem ser aplicados à sua situação”, afirma
Mas o que é reprodução assistida?
A reprodução assistida reúne diferentes técnicas médicas usadas para auxiliar o processo de fecundação de uma mulher. Elas podem ser de baixa complexidade, como a relação sexual programada e a Inseminação Intrauterina (IIU) ou de alta complexidade, como a
Fertilização in Vitro (FIV).
Os procedimentos têm boas chances de sucesso, mas o casal deve saber administrar as expectativas e entender que nem sempre esses processos são simples ou apresentam sucesso já na primeira tentativa.
Por isso, a escolha de um médico especialista e experiente se torna fundamental. Ele vai verificar todas as variáveis, como idade da mulher, doenças pré-existentes, alterações genéticas e hábitos de vida para chegar ao resultado esperado, que é uma gravidez saudável com nascimento de uma criança sadia.
Segundo a Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva (ASRM), até 30% dos casais inférteis não têm um diagnóstico inicial preciso. Nesses casos, o tratamento é empírico, ou seja, baseado em experiência.
“Apesar da literatura médica ser vasta nesta área, muitos estudos não consideram as inúmeras variáveis, por isso é preciso individualizar”, comenta a especialista.
Quando procurar a reprodução assistida?
O casal deve procurar ajuda médica quando eles estão tentando engravidar há um ano ou mais pelo método natural, mas sem sucesso.
Em mulheres acima de 35 anos, o especialista deve ser procurado já após seis meses de tentativa, já que a idade é o principal determinante da fertilidade.
Quando um dos parceiros já se sabe portador de alguma doença ou condição que possa dificultar ou até mesmo impedir a gestação por vias naturais, também é necessário buscar ajuda assim que decidirem pela gravidez.
“A reprodução assistida representa esperança para aqueles que não conseguem ter filhos por métodos naturais. A evolução e a popularização das técnicas e tratamentos demonstram a segurança dos procedimentos”, explica a médica.
Termos e técnicas da reprodução assistida
Para facilitar, Cláudia Navarro explica os termos e as técnicas mais comuns no conjunto de procedimentos.
Período fértil
É o período do mês em que a mulher tem mais chances de engravidar, normalmente 14 dias antes da menstruação.
Ele dura cerca de cinco dias e é quando há a ovulação, ou seja, quando o óvulo maduro é
capturado pela tuba uterina, onde poderá ser penetrado por um espermatozoide, acontecendo assim a concepção.
Idade fértil
Idade fértil é aquele período em que a mulher apresenta óvulos sendo capaz de engravidar.
De uma maneira genérica, a idade fértil compreende o período entre a menarca (primeira menstruação) e a menopausa (última menstruação).
A fertilidade da mulher é alterada durante a vida. Os 20 anos são a faixa etária mais fértil, com o maior número de óvulos de “boa qualidade” e com menor chance de complicação.
Aos 32 anos, é comum que a fertilidade apresente um declínio lento e, após os 35 anos, principalmente após os 37, o número de óvulos é drasticamente reduzido.
Nessa idade, as chances de gravidez em 3 meses de tentativas é de 12%. Aos 40, essa taxa passa a ser de 7% e aumentam os riscos de aborto espontâneos, malformação
genética e problemas de saúde do bebê.
Congelamento de óvulos
Chamado também de criopreservação de óvulos, o congelamento é uma técnica em que são extraídos óvulos, preferencialmente da mulher abaixo de 35 anos, e eles são mantidos congelados em tanques de nitrogênio.
Em momento futuro, que podem ser anos depois, a mulher recorre a eles e é submetida a uma Fertilização in Vitro (FIV), explicada abaixo.
Apesar de apresentar grandes chances de sucesso, o congelamento de óvulos não pode ser visto como uma garantia total de uma gravidez futura.
Estimulação ovariana
Tratamento feito com hormônios para estimular o desenvolvimento de um maior número de óvulos.
Ele é feito, principalmente, para técnicas de reprodução assistida como Fertilização in Vitro (FIV) e Inseminação Intrauterina (IIU). Em alguns casos pode ser realizada no coito programado.
Coito Programado
A mulher realiza o rastreamento de ovulação, podendo ou não se submeter à estimulação ovariana.
No momento indicado, o casal é orientado para que tenha relações sexuais.
Inseminação Intrauterina (IIU)
A Inseminação Intratuterina [5] é considerada procedimento de baixa complexidade porque a fecundação (encontro do óvulo com o espermatozoide) ocorre dentro do próprio organismo e não em laboratório, como na FIV.
Na IIU, a mulher recebe aplicações diárias de hormônios em uma clínica especializada para estimular a produção de óvulos. O sêmen é coletado e beneficiado em laboratório.
Após a seleção, os espermatozoides são injetados diretamente no útero da mulher por meio de um cateter, para que a fecundação ocorra naturalmente.
Na inseminação intrauterina pode ser utilizado o sêmen do próprio parceiro (homólogo) ou de doadores em um banco de gametas (heterólogos).
Doação de gametas
Seja por idade ou por algum problema de saúde, a doação de gametas é recomendada para mulheres incapazes de produzir seus próprios óvulos.
Óvulos e espermatozóides são doados por voluntários e mantidos em um banco de gametas. A doação deve ser feita de forma anônima e não pode visar lucro, de acordo com resolução do Conselho Federal de Medicina.
No caso da doação de óvulos, eles são unidos aos espermatozoides do parceiro em laboratório para formar embriões (técnica de fertilização in vitro).
Para os casos em que o parceiro é infértil, recorre-se à doação de espermatozóides para a fecundação do óvulo na própria mulher.
Fertilização in vitro (FIV)
A Fertilização in Vitro (FIV) [6] apresenta maior complexidade, pois a fecundação ocorre em ambiente artificial, ou seja, fora do corpo humano.
Na técnica, ocorre o mesmo processo prévio de estimulação ovariana, porém com dores hormonais mais altas.
O óvulo é retirado através de uma punção e fecundado por espermatozoides selecionados. O óvulo é, então, mantido em estufa sob a mesma temperatura do corpo feminino.
Após o desenvolvimento embrionário, o embrião é introduzido no útero da mulher.
O processo todo dura em torno de 15 dias. A coleta ovular ocorre em ambiente cirúrgico sob sedação. A paciente pode retornar para casa poucas horas após o procedimento.
Essa técnica costuma ser indicada para casos mais graves, como alterações tubárias, endometriose ou fator masculino. A indicação deve ser sempre individualizada.
Transferência de embriões
A transferência de embriões (blastocisto) [7] é a etapa final da FIV. Após os procedimentos de inseminação de espermatozoides no óvulo, é formado o embrião.
Esse embrião será transferido para o útero após 3 a 5 dias da coleta. Geralmente, o embrião que chega a blastocisto é de maior qualidade, o que melhora as chances de sucesso do tratamento.
Entretanto, em alguns casos, a transferência deve ocorrer já no 3º dia, pois pode ocorrer a chance de os embriões não chegarem ao 5º dia.
Injeção Intracitoplasmática de Espermatozoides (ICSI)
O método é uma variação da FIV tradicional, mantendo os mesmos procedimentos iniciais, como a estimulação, aspiração, coleta e cultura dos espermatozoides.
A diferença está no momento de injeção do espermatozoide. Nesse caso, ele é colocado dentro do óvulo através de uma micropipeta.
Em geral, essa técnica é recomendada para casos em que o problema de infertilidade masculina é mais grave ou a idade da mulher é mais avançada.
Sobre Cláudia Navarro
Cláudia Navarro [8] é especialista em reprodução assistida. Graduada em Medicina pela UFMG em 1988, titulou-se mestre e doutora em Medicina (obstetrícia e ginecologia) pela instituição federal. Atualmente, atua na área de reprodução humana, trabalhando principalmente os seguintes temas: infertilidade, reprodução assistida, endocrinologia ginecológica, doação e congelamento de gametas.
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