As olimpíadas estão aí e diversas pessoas já vieram me perguntar se transar antes da competição atrapalha os atletas e eu digo que sim e não, ou seja, tem alguma verdade aí, mas também, muito mito.
“O quê, Kiss? Como assim?”
Como a boa geminiana que sou, adoro uma contradição, mas antes… permita-me te contar como o mito de que o sexo atrapalha o desempenho esportivo começou…
O filósofo Platão espalhou aos quatro cantos na Grécia Antiga que a abstinência sexual era o melhor incentivo para que os atletas vencessem as competições nos Jogos Olímpicos porque o acúmulo de testosterona deixava os homens mais agressivos para enfrentar seus oponentes. No ano de 444 a.C, no Santuário de Olímpia, ele mesmo venceu duas vezes no pankration, uma espécie de MMA da época. Seu aconselhamento virou regra e grandes nomes do esporte como o boxeador Mohamed Ali e o ciclista Patrick Dempsey que também optavam pela abstinência, ajudaram a fomentar a ideia de um jeito que ainda é diretriz sexo comportamental para muitos.
Contudo, a ciência não afirma nada sobre a “fúria” da testosterona acumulada ou o aumento no desempenho e rendimento do atleta devido a abstinência. De qualquer forma, o mito se consolidou de um jeito que ainda hoje diversos clubes e seleções obrigam a distância física e sexual dos cônjuges durante as competições. Um exemplo disso foi em 2014, na Copa do Mundo aqui no Brasil onde o técnico da Bósnia e Herzegovina proibiu que os atletas transassem e ainda declarou: “não são férias”. Quando o argumento não é a reserva de testosterona, os comitês desportivos jogam a culpa na “preservação psicológica” do atleta para que se evite qualquer distração com possíveis desentendimentos no relacionamento. Opa! Será que isso vem do pensamento estrutural de que as mulheres são o “calcanhar de Aquiles” dos homens?! Fico na dúvida, mesmo porque essas teorias são totalmente excludentes para as mulheres visto que não temos uma grande quantidade assim de testosterona percorrendo em nosso corpo a ponto de definir nossa força e desempenho, pois não?!
O que ocorre também é que a crença milenar sobre esse mito está tão enraizada que, psicologicamente, pode atrapalhar o desempenho. E ela ainda é fomentada pelas crenças de que sexo é pecado e que a ejaculação diminui a energia masculina, ideia totalmente desproporcional visto que, na verdade, essa resposta sexual aumenta o nível de testosterona por até 10 horas. Sem contar que a atividade física por si só também estimula os níveis do hormônio. Sendo assim, a ideia de abstinência sexual é apenas um placebo sobre o desempenho do atleta.
Agora é que vem a parte boa que eu, sexóloga e representante fiel da ciência amo falar… A atividade sexual é um dos maiores benefícios que fazemos pela nossa saúde física e mental porque é justamente dela que vem as ondas de DOPAMINA, ENDORFINA e OCITOCINA, respectivamente, hormônios responsáveis pela motivação, pelo fim das dores crônicas e pelo amor. Três importantes substâncias que precisam circular pelo nosso corpo para que ganhemos qualquer competição, seja no âmbito desportivo ou não devido a sensação de segurança psicológica e bem-estar.
“Ué, Kiss… e a parte do ‘tem alguma verdade aí nesse mito’”?
O sexo também libera outro hormônio, a prolactina que estimula o relaxamento e o sono. Daí, junta-se isso ao desgaste físico no processo de tumescência e detumescência peniana e pimba! Os homens apagam após o coito. Com as mulheres não acontece dessa forma porque o processo de relaxamento é um pouco diferente. A prolactina também age provocando o relaxamento mas, não passamos por essa detumescência de forma tão rápida. E mais… se nós não atingimos o orgasmo, nosso corpo ainda permanece em estado de excitação e isso é um gás para levantarmos da cama e fazermos outra coisa como, por exemplo, vencermos uma competição. Risos.
Conclusão, sexo é importante e benéfico para a saúde física e mental e não atrapalha o desempenho de nenhum atleta, seja homem ou mulher, contudo, não pode ser feito horas antes da competição porque pode nos levar a um estado de sonolência.
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