Mudança radical na política de conteúdo marca nova fase da inteligência artificial conversacional
A OpenAI acaba de anunciar uma das mudanças mais polêmicas desde o lançamento do ChatGPT: a partir de dezembro deste ano, usuários adultos verificados poderão ter acesso a conteúdo erótico na plataforma. O anúncio, feito pelo CEO Sam Altman em suas redes sociais, promete transformar a forma como a empresa lida com restrições de conteúdo.
Da censura total à liberdade controlada
“Em dezembro, como parte do nosso princípio de ‘tratar usuários adultos como adultos’, permitiremos ainda mais coisas, como conteúdo erótico para adultos verificados”, declarou Altman na rede social X (antigo Twitter). A frase resume a filosofia por trás da mudança: a empresa quer dar mais autonomia para quem usa o chatbot de forma responsável.
Atualmente, o ChatGPT bloqueia qualquer tentativa de criar ou interagir com conteúdo sexualmente explícito. Embora muitos usuários encontrem brechas para contornar essas restrições, a prática nunca foi oficialmente permitida. Isso está prestes a mudar.
O dilema da saúde mental
A decisão não surge do nada. Altman admitiu que a OpenAI havia tornado o ChatGPT “bastante restritivo” para lidar com questões de saúde mental. “Percebemos que isso o tornou menos útil e agradável para muitos usuários sem problemas de saúde mental, mas dada a seriedade do problema, queríamos acertar”, explicou o executivo.
O que mudou? Segundo Altman, a empresa desenvolveu novas ferramentas e conseguiu “mitigar problemas graves de saúde mental”, o que permitiria relaxar as restrições com segurança.
Essa preocupação tem raízes em tragédias recentes. Em agosto, a OpenAI foi processada pelos pais de Adam Raine, um adolescente californiano de 16 anos que cometeu suicídio após usar o ChatGPT como confidente. Segundo a denúncia, o chatbot teria oferecido aconselhamento específico e até ajudado a rascunhar a carta de despedida do jovem.
Verificação de idade: o grande desafio
A implementação da nova política depende crucialmente de um sistema robusto de verificação de idade, previsto para dezembro. No entanto, a OpenAI ainda não revelou detalhes sobre como funcionará esse mecanismo — um ponto que gera ceticismo entre especialistas e usuários.
Como garantir que menores de idade não terão acesso ao conteúdo adulto? A empresa já deu o primeiro passo: em setembro, lançou uma versão do ChatGPT para menores de 18 anos, que bloqueia automaticamente material gráfico e sexual.
Mais humanização do chatbot
Além do conteúdo erótico, outras mudanças estão a caminho. Nas próximas semanas, o ChatGPT permitirá que usuários personalizem a personalidade do assistente de IA, com opções para respostas “mais humanas”, uso intensivo de emojis ou um tom de conversa próximo ao de um amigo.
A novidade remete ao ChatGPT 4o, versão anterior que tinha um comportamento mais natural e era muito apreciada pelos usuários. Agora, essa característica retorna aprimorada, dando mais controle sobre como a IA se comunica.
Investigações e pressão regulatória
A decisão da OpenAI ocorre em um cenário de crescente escrutínio sobre os riscos das IAs conversacionais. A Comissão Federal de Comércio dos Estados Unidos (FTC) abriu investigação que inclui a OpenAI e outras empresas de inteligência artificial, especialmente focada nos efeitos potencialmente nocivos dos “companheiros de IA” sobre jovens.
O debate público se intensificou após múltiplos casos de adolescentes que desenvolveram vínculos emocionais problemáticos com chatbots, levantando questões sobre responsabilidade corporativa e necessidade de regulamentação mais rígida.
Mudança de rota ou estratégia de mercado?
Curiosamente, Altman já havia criticado publicamente concorrentes que optaram por criar “bots de sexo de anime japonês” — uma aparente referência a Elon Musk e seu chatbot Grok. Na época, o CEO da OpenAI afirmou que sua empresa não seguiria esse caminho para evitar que “pessoas em estados mentais frágeis sejam exploradas acidentalmente”.
A mudança de postura sugere que a empresa encontrou um meio-termo: permitir conteúdo adulto, mas com salvaguardas supostamente mais eficazes.
O que vem pela frente
A implementação da nova política em dezembro será um teste crucial para a OpenAI. A empresa precisará demonstrar que consegue equilibrar liberdade de uso para adultos com proteção efetiva de menores e pessoas vulneráveis.
Para os usuários, a promessa é de uma experiência mais personalizada e menos limitada. Para críticos, a preocupação permanece sobre os riscos inerentes a uma IA que pode assumir qualquer papel — inclusive em contextos íntimos.
O ChatGPT está prestes a entrar em território inexplorado. Se a OpenAI conseguirá navegar essas águas turbulentas sem novos escândalos, só o tempo dirá. Dezembro promete ser um mês decisivo para o futuro da inteligência artificial conversacional.