O fetiche na moda: harness, chokers e lingeries conquistam o streetwear

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O fetiche na moda: harness, chokers e lingeries conquistam o streetwear

Das passarelas às ruas, o fetiche se consolida como estética de estilo e liberdade.

Quando comecei a observar os desfiles de 2024, uma coisa ficou clara: o fetiche esse ano estaria cada vez mais em alta invadindo as ruas, os stories e até nos editoriais mainstream. Harness, chokers, lingeries expostas, transparências e detalhes de couro estão sendo reaproveitados pela moda de rua, reinterpretados — e às vezes suavizados — para dialogar com nosso desejo por afirmação corporal, ousadia e expressão.

Essa mistura de sensualidade e rebeldia nos abandona qualquer pudor antigo: não se trata mais só de impactar, mas de pertencer, de mostrar quem se é, de celebrar o desejo.

Tendências observadas nas semanas de moda

Saint Laurent / Shows de Alta Costura

Botas altas de couro, corpos quase nus com acessórios de metal (“hardware”) e influência estética de BDSM nos cortes e acentos decorativos.

Milan Fashion Week SS25

Em desfiles masculinos e unissex, vimos o uso de sheer shirts (camisas transparentes) combinadas com harnesses inspirados em estética BDSM, couro, tiras e detalhes metálicos de acabamento.

Paris Fashion Week

No inverno/outono 2025, marcas exploraram lingerie visível (lingerie à mostra) em combinações que misturam sensualidade e streetwear — sutiãs, bustiers e detalhes rendados aparecendo sob casacos ou com transparências.

London Fashion Week AW25

Designers integraram harnesses de couro mesclados com tricôs ou cardigãs grossos, criando uma tensão visual entre o macio e o estruturado; o fetiche aparece mais como detalhe de styling do que como peça de lingerie explícita.


Elementos do fetiche que viraram moda de rua

Aqui estão os componentes fetichistas que mais aparecem com frequência e como eles estão sendo adaptados:

  • Harnesses: faixas, tiras de couro ou materiais sintéticos que circundam o tronco, cintura ou peito. Às vezes usados sobre camisa lisa, às vezes sozinhos — sempre como peça de destaque.
  • Chokers / colares curtos: com argolas, em couro ou metais, usados com camisetas, vestidos ou jaquetas — deixam o look mais punk, underground, agressivo ou até romântico, dependendo dos materiais.
  • Lingerie à mostra / bustiers / corsets: apareceram como peças externas ou parcialmente expostas, combinadas com oversized blazers ou camadas transparentes. Rendas, tule, bordados pesados e fios metálicos aparecem bastante.
  • Metal hardware, fivelas, argolas: usados como ornamento, reforçando a estética bondage/fetiche, mesmo em roupas que não são explicitamente BDSM.
  • Transparência & couro: tule, mesh, vinil ou couro falso atuam como meio-termo entre sensualidade crua e moda usável no dia a dia.

Minha análise: por que isso está em ascensão

  • Desejo de autenticidade e expressão: as pessoas querem se expressar, e mostrar fetiche através da moda é uma forma de quebrar silêncios, de assumir desejos, de experimentar identidade.
  • Influência digital: redes sociais, TikTok, Instagram, visual boards — uma imagem forte viaja rápido. Ver alguém usando harness em street style, um editorial ou um vídeo viral normaliza muito.
  • Quebra de barreiras entre moda íntima e moda externa: lingerie já não é só pra dentro de casa. Assim como a tendência de “underwear as outerwear” (lingerie como vestuário de rua) cresce, o fetiche visual ganha nova função.
  • Mistura de estilos & híbridos: a moda de 2025 parece menos interessada em pureza de estilo e mais na combinação. Streetwear + lingerie + fetiche = algo inesperado, distintivo, instagramável.

Limites e tensões

Claro, nem toda abordagem funciona para todos os públicos:

  • Existe o risco de fetichização involuntária ou uso de símbolos sem entender seu contexto, o que pode resultar em desconforto ou ofensa.
  • Para quem aprecia discrição, pode haver um limiar fino entre ousado e excessivo — depende muito do estilo pessoal e do ambiente.
  • Também há diferença entre moda de passarela/editorial e moda de rua/utilitária — muitas peças vistas nas semanas de moda não estarão disponíveis para a maioria, ou estarão adaptadas.

Dicas práticas para incorporar esse estilo (sem perder identidade)

  1. Comece pequeno: um choker ou um harness leve — algo que destaque mas que você se sinta confortável usando.
  2. Use como detalhe: harness sobre uma camiseta básica, lingerie visível sob blazer ou jaqueta, transparência parcial.
  3. Misture contrastes: uma peça pesada de couro com tecidos leves, ou hardware pesado com geometrias delicadas.
  4. Aposte em acessórios: argolas, correntes, fivelas — às vezes é o mínimo que dá o tom fetichista sem exagerar.
  5. Cuide dos materiais: couro vegano, metais antialérgicos, costuras reforçadas — porque peça com cara de fetiche também costuma exigir qualidade.

O que já podemos ver nas lojas e nas ruas

  • Lojas especializadas que lançam harnesses decorativos, não de segurança, para uso de streetwear.
  • Marcas jovens que combinam bustiers ou corpetes como tops externos, especialmente em climas mais quentes ou em looks festivos.
  • Produções de editorial urbano que utilizam chokers pesados ou coleiras metalizadas como destaque de styling (campanhas de moda, influenciadores).

A moda fetichista — harnesses, chokers, lingeries inspiradas em BDSM — deixou de ser recorte restrito do underground para se tornar parte da linguagem visual contemporânea. Ela serve como forma de expressão, afirmação e sedução estética.

Para mim, o mais fascinante é que o fetiche, quando misturado ao streetwear, se torna menos sobre rebeldia só por rebeldia, e mais sobre reconhecimento: reconhecer desejos, corpos, identidades, texturas. Mostrar o que antes era segredo — e celebrar.

Até porque se formos analisar bem, a moda também é fantasia — e fantasia pedida, vestida, exposta.

Foto destaque: Freepik

Relações Públicas, atuante em assessoria de imprensa e gestão de conteúdo para internet. Pós graduada em Educação Sexual pelo ISEXP – Instituto Brasileiro de Sexualidade e Medicina Psicossomática da Faculdade de Medicina do ABC, atendeu a várias empresas e profissionais do ramo erótico de 2002 até atualidade, estando inclusive a frente da sala de imprensa da Erótika Fair de 2002 a 2010. Também é certificada em Inbound Marketing pelo HubSopt Academy.

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