Quando o assunto é prazer feminino, ainda tem muita gente que torce o nariz ou fica com as bochechas vermelhas. Mas, cá entre nós, por que raios a masturbação feminina ainda é um tabu tão grande? Quem está ajudando a mudar esse cenário é Sanja Zündorf, uma alemã que, com muita coragem e um toque de criatividade, criou um brinquedo sexual que é, no mínimo, inusitado: um Masturbationssattel – ou, em bom português, um “selim de masturbação”. Isso mesmo, um acessório que você pode acoplar ao seu travesseiro para transformar aquele momento íntimo em algo mais confortável e, por que não, divertido. Vamos mergulhar nessa história e entender como Sanja está quebrando barreiras e ajudando mulheres a abraçarem sua sexualidade sem vergonha.
O começo de tudo: uma questão pessoal
Sanja Zündorf não começou essa jornada pensando em criar um sextoy revolucionário. Na verdade, tudo começou com uma inquietação bem pessoal. Durante sua juventude (e até na infância), ela sentia uma vergonha enorme por se masturbar. “Eu achava que era a única mulher no mundo que fazia isso”, ela conta em suas entrevistas. E, olha, se você já passou por esse sentimento, pode levantar a mão – porque, spoiler: você não está sozinha.
Essa sensação de isolamento e vergonha não vinha dela mesma, mas de algo maior: a sociedade. A forma como a sexualidade feminina é tratada, muitas vezes com silêncio ou julgamentos, acaba criando uma barreira invisível. Sanja percebeu isso e decidiu que era hora de fazer algo a respeito. Durante sua pesquisa de mestrado, ela mergulhou de cabeça no tema da masturbação feminina e descobriu coisas que, bem, não são exatamente o que o mercado de sextoys nos faz acreditar.
O que o mercado não conta
Se você já entrou em uma loja de produtos eróticos ou deu uma olhada online, provavelmente notou que o mercado está abarrotado de dildos e vibradores de todos os tamanhos, cores e formatos. Parece até que a única forma “aceitável” de prazer feminino é através da penetração, né? Mas Sanja descobriu algo diferente: muitas mulheres preferem métodos menos… digamos, convencionais. Sabe aquele hábito de se esfregar no travesseiro ou na coberta? Pois é, não é tão incomum quanto parece. Só que quase ninguém fala sobre isso. Por quê? Vergonha.
Na pesquisa dela, Sanja percebeu que muitas mulheres sentem que, se não estão usando um brinquedo fálico, estão fazendo algo “errado”. E essa ideia não surge do nada – ela é reforçada pelo mercado, que bombardeia a gente com produtos que imitam o sexo heteronormativo. “Se todo mundo está comprando dildos, então deve ser assim que se faz, certo?” Errado. A verdade é que a masturbação é tão diversa quanto as pessoas que a praticam, e não existe uma forma “certa” ou “normal” de se dar prazer.
A invenção do Masturbationssattel

Foi aí que Sanja teve a ideia que mudou o jogo: criar um acessório que tornasse o ato de “montar o travesseiro” mais prático e, principalmente, livre de estigmas. Assim nasceu o Masturbationssattel, um cinto que você pode amarrar ao redor de um travesseiro para criar uma superfície mais confortável e funcional para a masturbação. Parece simples, mas é genial. Além de facilitar a vida de quem já curte esse método, o acessório manda um recado poderoso: tá tudo bem explorar o prazer do jeito que você quiser.
Com sua empresa, chamada Entzück dich selbst (algo como “Deleite-se” em alemão), Sanja quer mostrar que a masturbação não precisa ser algo escondido ou motivo de constrangimento. Pelo contrário, é uma forma de se conectar consigo mesma, de explorar o próprio corpo e, claro, de se divertir. E, olha, ela não tá sozinha nessa missão.
O peso do patriarcado
Um dos pontos mais interessantes que Sanja levanta no artigo é como o patriarcado molda a forma como vemos o prazer feminino. Ela cita o conceito de Male Gaze (o “olhar masculino”), que a gente conhece bem do cinema, mas que também se aplica ao mercado de sextoys. Por que tantos brinquedos são desenhados para imitar um pênis? Porque, historicamente, a sexualidade feminina foi vista através de uma lente masculina, onde o prazer da mulher só “vale” se estiver ligado a um homem (ou a algo que o substitua).
Sanja explica que muitos brinquedos reforçam a ideia de que o sexo é, acima de tudo, penetrativo. Mas a realidade é que a maioria das mulheres chega ao orgasmo através da estimulação clitoriana, não da penetração. Então, por que o mercado insiste em nos vender algo que nem sempre reflete o que queremos ou precisamos? A resposta, segundo ela, está no fato de que a indústria é dominada por homens. E isso não é só uma questão de design de produto – é uma questão cultural.
“Uma mulher que encontra prazer sem precisar de um pênis é, de certa forma, uma ameaça ao patriarcado”, diz Sanja. E não é que faz sentido? Uma mulher que se satisfaz sozinha, que conhece o próprio corpo e não depende de ninguém para sentir prazer, é uma mulher poderosa. E, claro, isso assusta quem está acostumado a ditar as regras.
Quebrando estereótipos

Outro ponto que Sanja aborda é como a imagem da masturbação feminina é distorcida. Quando pensamos em uma mulher se masturbando, a primeira coisa que vem à cabeça (graças a filmes, pornôs e até propagandas) é uma cena superproduzida: uma mulher deitada, em lingerie sexy, gemendo alto enquanto usa um vibrador. Mas a realidade é bem mais… normal. Muitas mulheres na pesquisa dela contaram que se masturbam de pijama, antes de dormir, sem nenhuma cerimônia. É algo rápido, prático e, muitas vezes, até meio desleixado – e tá tudo bem!
Esse contraste entre a fantasia e a realidade só reforça a ideia de que a masturbação feminina é cheia de estereótipos. E esses estereótipos acabam alimentando a vergonha, porque as mulheres sentem que não estão “fazendo direito” se não seguem o script. Sanja quer mudar isso, mostrando que o prazer não precisa seguir um padrão. Seja com um travesseiro, um vibrador ou as próprias mãos, o importante é se sentir bem.
Dicas para redescobrir o prazer
Sanja dá algumas dicas para quem quer explorar a própria sexualidade sem medo. A primeira é: conheça seu corpo. Parece óbvio, mas muita gente pula essa etapa por causa da vergonha ou da falta de informação. Experimentar diferentes formas de toque, sem pressa, é um jeito de descobrir o que funciona para você.
Outra dica é se livrar da ideia de que existe uma “maneira certa” de se masturbar. Cada pessoa é única, e o que funciona para uma pode não funcionar para outra. Sanja também sugere conversar sobre o tema com amigas ou pessoas de confiança. Falar sobre masturbação, mesmo que seja de forma leve e descontraída, ajuda a normalizar o assunto e a reduzir a vergonha.
Por fim, ela recomenda investir em brinquedos que sejam confortáveis e intuitivos. Não precisa ser algo caro ou sofisticado – o importante é que te faça sentir bem. E, claro, o Masturbationssattel dela é uma opção para quem quer algo diferente e prático.
O impacto cultural
A missão de Sanja vai além de vender um produto. Com o Entzück dich selbst, ela quer abrir uma conversa mais ampla sobre a sexualidade feminina. E ela não está sozinha. Outras vozes, como a influenciadora Marie-Joan Schmidt, também estão falando abertamente sobre prazer e autoestima. Marie-Joan nos conta que a falta de diálogo sobre sexualidade a motivou a compartilhar suas experiências, incluindo as mais difíceis, como o abuso sexual que sofreu.
Essa onda de mulheres falando sobre sexo sem filtros está, aos poucos, mudando a forma como a sociedade encara o prazer feminino. É um movimento que começou com figuras como Beate Uhse, que nos anos 1950 revolucionou o mercado erótico na Alemanha ao abrir o primeiro sex shop do país, desafiando as normas de uma sociedade conservadora.
Hoje, em 2025, o cenário está bem diferente, mas ainda há muito trabalho a fazer. A sexualidade feminina ainda é vista como algo secundário, muitas vezes reduzida a um apêndice do prazer masculino. Projetos como o de Sanja e o de Marie-Joan mostram que é possível mudar isso, uma conversa – ou um travesseiro – de cada vez.
Por que isso importa?
Quebrar o tabu da masturbação feminina não é só sobre prazer. É sobre autonomia, autoestima e liberdade. Quando uma mulher se sente confortável com seu corpo e seus desejos, ela ganha confiança para tomar decisões em outras áreas da vida. É sobre dizer “eu mereço sentir prazer” e “eu não preciso me envergonhar por isso”.
Sanja Zündorf, com seu Masturbationssattel e sua missão de desmistificar a sexualidade, está ajudando a construir um mundo onde as mulheres possam ser donas de si mesmas. E, quem sabe, talvez a próxima vez que você pegar aquele travesseiro, você faça isso com um sorrisinho no rosto, sabendo que não está sozinha – e que tá tudo bem.
